quarta-feira, 29 de agosto de 2007

2008 já começou

Dos 513 deputados, 133 têm pretensão de disputar as eleições municipais do ano que vem. Só no PT, um terço da bancada sonha em se tornar prefeito.

No que depender do apetite eleitoral dos deputados, a Câmara terá uma nova cara a partir de janeiro de 2009. Um em cada quatro dos 513 deputados pretende disputar as eleições do ano que vem. A 13 meses da disputa, 133 parlamentares são pré-candidatos a prefeito.

As urnas devem atrair sobretudo os governistas. Só no PT, praticamente um terço dos 81 deputados está de olho em alguma prefeitura. No PCdoB, o gabinete municipal é cobiçado por dez de seus 13 representantes na Câmara. Ao todo, 40 parlamentares que fazem oposição ao governo Lula acenam com pré-candidaturas (veja a lista por partido).

Das bancadas estaduais, a do Amapá é a que tem o maior número proporcional de pré-candidatos: cinco dos oitos representantes do estado. Em números absolutos, porém, essa marca fica com a representação da Bahia, com 16 pré-candidatos, seguida pelas bancadas do Rio de Janeiro, com 15 pré-candidatos, e de São Paulo, com 14 (veja a lista por estado).

O levantamento feito pelo Congresso em Foco nas lideranças partidárias e nos gabinetes dos próprios parlamentares revela uma disputa que irá se afunilar nos próximos meses. É bem provável, contudo, que o número efetivo de candidatos seja menor – inclusive com outros personagens. É que muitos partidos têm dois deputados interessados em governar as mesmas cidades, principalmente as capitais, que devem ter o maior número de parlamentares candidatos.

Em São Paulo, por exemplo, há cinco pré-candidatos deputados, todas da base aliada – Arlindo Chinaglia (PT), Aldo Rebelo (PCdoB), Paulinho Pereira (PDT), Luiza Erundina (PSB) e Celso Russomanno (PP). No Rio e em Salvador, dois deputados do DEM brigam pela indicação do partido.

Os pré-candidatos têm até 31 de setembro para trocar de legenda e concorrer nas próximas eleições. Na última eleição municipal, em 2004, 87 deputados federais disputaram o cargo de prefeito ou vice (leia mais). Desses, no entanto, apenas 19 (21,8%) tiveram sucesso nas urnas.

As eleições de 2008, como se vê, serão uma prova de fogo para as atuais alianças partidárias. Em sua estréia nas urnas, o DEM (ex-PFL) articula hoje a pré-candidatura de 15 dos seus 60 deputados. Com duas cadeiras a menos na Casa do que seus colegas oposicionistas, os tucanos têm hoje 16 pré-candidatos na Câmara.

Ensaio para 2010

Desafio maior enfrentará a base governista, que terá de resistir às divergências históricas locais para não comprometer a unidade no Congresso. O líder do bloco encabeçado por PSB, PCdoB e PDT, Márcio França (PSB-SP), é pragmático ao analisar o cenário que se formará em 2008. A disputa é tratada por ele como uma espécie de teste para a eleição presidencial de 2010, na qual o partido pretende unificar a base governista em torno do nome do deputado Ciro Gomes (PSB-CE). “Vai ser um ensaio. Se sairmos bem, estaremos prontos para o show”, diz França.

Integrantes do bloco têm se reunido com freqüência para tratar das eleições municipais. Segundo o líder, o PSB terá cautela para não melindrar aliados históricos, como o PT e o PCdoB. Mas o mesmo raciocínio, ressalva, deve ser levado em conta por petistas e demais aliados. “Seria um contra-senso, por exemplo, lançar um candidato do PSB em Porto Alegre se a Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), que faz parte do bloco, estiver bem nas pesquisas”, afirmou. Dos 13 deputados do PCdoB, dez aparecem como pré-candidatos.

Alguns partidos e deputados, contudo, ainda não querem publicamente comentar sobre as eleições de 2008. “Esse negócio é igual a contratação de jogador de futebol. Se você apresentar o nome antes da hora, corre o riso de melar”, afirmou o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), ele mesmo pré-candidato à prefeitura de Goiânia.

Segundo o deputado Henrique Eduardo Alves (RN), líder do PMDB da Câmara, os partidos que formam a coalizão do governo Lula ainda pretendem se reunir para discutir nomes nas principais 100 cidades brasileiras, incluindo capitais e cidades de médio ou grande porte. “A intenção é agregar a base de modo que ela não se divida nas eleições”, declarou. Dono da maior bancada na Casa e partido com o maior número de prefeitos em todo o país, o PMDB tem, até agora, apenas 15 deputados pré-candidatos.

Interesses em jogo

Para David Fleischer, professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), o interesse dos parlamentares brasileiros em interromper o mandato para disputar eleições municipais “é uma tradição da política brasileira”. “Muitos entram na corrida para angariar apoio para aliados municipais e vereadores. E, claro, isso se reflete numa eventual candidatura de reeleição do deputado em 2010”, diz.

Muitos, afirma Fleischer, entram na disputa não pelo desejo de virar prefeito, mas pensando mais na exposição que terão com a candidatura e em possíveis barganhas. Como exemplo, ele cita casos em que o pré-candidato se lança, num primeiro momento, para desistir da disputa, mais à frente, em benefício de outro, em troca de favores.

Alguns partidos não escondem o interesse de lançarem candidatos por causa da exposição advinda do horário eleitoral gratuito no rádio e na TV. O Psol e o DEM, por exemplo, têm determinação expressa nesse sentido por suas direções. Todos os três deputados do partido presidido pela ex-senadora Heloísa Helena (AL) são pré-candidatos a prefeito.

Para Chico Alencar (RJ), líder do Psol na Câmara, essa é uma estratégia de “afirmação” da legenda. “São nomes de pessoas que têm certa visibilidade”, diz o deputado carioca, citando a si próprio e os deputados Ivan Valente (SP), pré-candidato na capital paulista, e Luciana Genro (RS), pré-candidata em Porto Alegre.

Já para os Democratas, o desafio é debutar a nova marca e deixar para trás o fracasso das eleições municipais e estaduais registrado recentemente pelo antigo PFL. “Nossa condição é essa. Todo partido quer chegar ao poder, e para isso tem que ter o máximo possível de candidatos. Esse é um desejo de todas as legendas”, diz o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ). Por ser filho do atual prefeito do Rio, César Maia (DEM), Rodrigo está impedido legalmente de concorrer à sucessão na capital fluminense.

Candidatura para crescer

Além da reafirmação, os partidos vêem as eleições municipais como um momento para aumentar de tamanho. É o que espera o PR, outro debutante. Poucos deputados do antigo PL manifestaram desejo de disputar as eleições de 2008.

“O partido só cresce com prefeitos e vereadores”, diz o líder da legenda, Luciano Castro (RR). Ele, contudo, expressa temor de que a bancada diminua caso alguns deputados sejam eleitos. “É preciso saber onde está o suplente”, alerta, preocupado com um movimentou inverso ao que aconteceu com o PR no primeiro semestre deste ano, quando sua bancada foi inflada vertiginosamente.

Aos 26 anos de idade, Manuela D’Ávila não esconde a animação com a sua pré-candidatura em Porto Alegre, ainda mais que as ultimas pesquisas lhe são favoráveis. A jovem deputada, que procura se desvincular do rótulo de “musa do Congresso”, atribui a sua disposição aos próprios eleitores.

“Trata-se de ouvir as pessoas de Porto Alegre, que me elegeram deputada. E as pesquisas mostram que estou em primeiro lugar”, diz. “Posso ajudar a população em um outro patamar. Mas essa não é uma decisão isolada”, ressalva. O PCdoB reivindica o apoio do PT na capital gaúcha. A também deputada Maria do Rosário (PT-RS) também articula sua candidatura à prefeitura de Porto Alegre.

Pré-candidata no Rio de Janeiro, a deputada Solange Amaral (DEM-RJ) trava com o também deputado Índio da Costa (DEM-RJ) uma disputa interna para saber qual dos dois disputará a eleição do próximo ano pela legenda na capital fluminense. Em clima de campanha, Solange justifica sua pretensão eleitoral: “Fui a terceira mais bem votada do Rio. Fiquei atrás apenas do filho do prefeito César Maia, Rodrigo Maia, e do Fernando Gabeira”.

O partido também prevê outro duelo acirrado em Salvador, onde são pré-candidatos os deputados José Carlos Aleluia (DEM-BA) e Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA). Adversários dentro da própria legenda, os dois disputam a primazia de ser o candidato do partido na capital baiana na primeira eleição sem o senador Antonio Carlos Magalhães, morto em julho passado.

Integrante do pequeno PHS, o deputado Miguel Martini (MG), pré-candidato em Belo Horizonte, admite que suas chances de vitória são mínimas em 2008, sobretudo diante do poderio eleitoral e econômico dos adversários. Mas é claro e espirituoso ao justificar suas pretensões. “Time que não joga não tem torcida”, brinca. “Democracia é isso, política é momento”, corrobora o deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), outro pré-candidato à prefeitura da capital mineira.

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